Este post vai explodir seus ouvidos. Veja 3 motivos

Você já deve ter percebido. Tentei usar a gramática e as técnicas virais no título do texto. Isso. É um linkbait. E, na real, nem sei se o post do Buzzfeed fez sucesso. Eu só queria convidá-lo a pensar um pouco sobre a tal “viralidade”. Vai dar algum trabalho. Você aceita o desafio? Se alguma

Você já deve ter percebido. Tentei usar a gramática e as técnicas virais no título do texto. Isso. É um linkbait. E, na real, nem sei se o post do Buzzfeed fez sucesso. Eu só queria convidá-lo a pensar um pouco sobre a tal “viralidade”. Vai dar algum trabalho. Você aceita o desafio? Se alguma coisa acabar por explodir na sua cabeça, Vincent Vega está a postos.

A fórmula dos virais

O BuzzFeed entrou no campo do áudio tentando repetir a fórmula que vem dando certo nos vídeos e nos textos:

  1. Excelente SEO, linkbaiting, extensiva pesquisa de keywords.
  2. Apelo ao emocionalismo (tragédia ou humor).
  3. Conteúdo curto e direto.
  4. E, claro, listas.

Era de se esperar títulos como “5 Sons Que Vão Causar Ereções No Seu Tio Eunuco”. Porém, o conteúdo do post citado acima era uma coleção de sons extraídos do cotidiano (sirenes etc.), embedados via Soundcloud. Sad trombone. Em todo o caso, o post abre um precedente.

O sistema imunológico do áudio

Os fãs tradicionais de programas de áudio parecem querer coisas que pouco têm a ver com o estilo viral:

  1. Periodicidade regular.
  2. Familiaridade com os apresentadores e personagens principais dos programas.
  3. Narrativas engajadoras.
  4. Humor mais para piada interna, o que aumenta o sentimento de pertencer a um “clube” seleto.

É por isso que alguns dos podcasts mais populares da atualidade são WTF (do comediante Marc Maron), Radiolab, Freakonomics Radio, 99% Invisible e This American Life. São programas mais longos (com, em média, 1 hora de duração) e conteúdo mais reflexivo.

Alguns são até perigosamente confessionais. Por exemplo, o Mental Illness Happy Hour — polêmico desde o título — que congrega incríveis depoimentos de pessoas com depressão, transtornos obsessivos-compulsivos, vítimas de violência sexual etc. Além de ter um apresentador, digamos, figura.

No Brasil, a produção de podcasts é bem menos variada, geralmente voltada para fãs de HQ da Marvel / DC e filmes comerciais norte-americanos. Mas alguns outros nichos ainda são atendidos, como o dos front-end designers, via ZOFE.

De qualquer forma, consumimos programas de áudio de uma forma mais lenta. E enquanto fazemos outras coisas: limpar a casa, dirigir para o trabalho etc. Não é um conteúdo tão imediatista, passível de viralizar, como os vídeos.

Fora que podcasts são difíceis de indexar para o Google. É preciso encontrar e assinar seus feeds. Aguentar headlines cheio de códigos esotéricos como “#425 – Beijinho no Ombro”. Instalar podcatchers bugados e antipáticos. Além de, cedo ou tarde, ter que esbarrar no muro de lamentações do iTunes. Pior: o áudio ainda não consegiu encontrar seu YouTube. Nem mesmo o Soundcloud e o Mixcloud emplacaram.

Assim, citei o áudio porque, ao longo dos anos, ele virou o patinho feio da web. Coisa para fãs e geeks mesmo. Até há pouco, parecia ser um dos últimos pontos de resistência à lógica da viralização. Mas, com o BuzzFeed na área, as coisas podem mudar.

Por que o conteúdo “viraliza”?

Todas as outras tecnologias de produção de conteúdo passaram por um processo relativamente parecido ao que está começando a acontecer com o áudio on-line.

Pense nos livros: inicialmente, surgiram como uma forma de popularizar um tipo particular de ideias (por exemplo, uma religião). Depois, seu propósito foi se diluindo (poderiam ser usados para divulgar outros conceitos, cada vez mais diversificados). Logo, os livros viraram objetos comerciais. E ganharam um rítmo industrial. Assim, a ênfase saiu do conteúdo e foi para a distribuição: é preciso produzir, claro, mas para atender a um mercado e manter a própria indústria editorial.

Aconteceu o mesmo com a imprensa. Ela nasceu para divulgar ideias proto-capitalistas (ou burguesas, como preferir). Depois virou uma indústria. E aí nasceu a periodicidade — não importa se tenho algo a dizer, preciso arranjar algo para publicar em certos dias da semana.

Com o advento da publicidade, as coisas foram acelerando, porque seria preciso vender anúncios, comprovar audiência etc. Os números e os meta dados começaram a influenciar na própria produção de conteúdo, que ficou mais complexa, dependente de inúmeros outros fatores, além das ideias em si.

O mesmo aconteceu com a internet. Os virais são apenas uma das formas recentes de lidar com esse fenômeno. Usamos fórmulas e métricas para descobrir o que publicar e como conseguir atenção — agora, em “tempo real”.

Ou melhor: a própria periodicidade sofreu uma mutação. Uma aceleração. Aos poucos virou gerenciamento de atenção. O problema agora é determinar quantas vezes (por dia, por minuto) é possível captar a atenção das pessoas. O que é preciso produzir agora? Em que quantidade? Em qual formato? Como é possível “controlar” uma mente humana por alguns segundos?

O processo acelerou tanto que começamos a recrutar máquinas para nos ajudar a decidir como produzir conteúdo. Afinal, elas são, de alguma forma, mais eficiêntes em comparar dados e apontar tendências. E estão cada vez mais rápidas e espertas na própria hora de escrever, fotografar etc.

Assim, estou curioso para ver o que a lógica viral vai fazer com o áudio. Será que vai surgir um Instagram para sons? Será que as pessoas vão registrar e divulgar vozes, assim como já fazem com fotografias? Nos shopping-centers, veremos centenas de pessoas falando sozinhas aos celulares1, tentando encontrar o melhor timbre para seu áudio-selfie? Vamos ver.

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