Recentemente, fiz um projeto para uma empresa indie de produção de conteúdo. Seus coordenadores queriam que eu planejasse a estratégia de conteúdo de um website e depois o redesenhasse. No começo, fiquei literalmente espantado com o quanto eles conheciam do meu trabalho. As referências de layout que me enviaram pareciam perfeitamente entrosadas com meus gostos pessoais.
Oh, oh. Gorilla Bas Mode (Macaco Velho).
Recebi o briefing e pedi um adiantamento, como sempre. Pagaram. Fiz meu trabalho da melhor forma que pude. Mas um tanto desconfiado. Eles queriam uma mudança radical demais no site. Essas coisas raramente acontecem.
Há alguns anos, eu ficaria totalmente embevecido com a oportunidade de fazer um trabalho com meu estilo. Entraria cegamente no projeto. E… booom, em algumas semanas, viria a frustração: os sujeitos “não entenderiam meu trabalho. Meu jeito. Minha reputação”.
Que preguiça, diria Macunaíma. Narcisismo demais.
Hoje em dia, com mais experiência, percebi que, talvez, os coordenadores estivessem perdidos, sem saber o que queriam. Estavam experimentando — o que não deixava de ser um bom sinal. Consequentemente, não estavam se comunicando com precisão.
As referências que me enviaram pareciam ser gostos pessoais deles. Mas não exatamente sugestões de layout. Eles não chegaram a pensar como o site ficaria na prática, se seguisse aqueles padrões. Menos ainda consideraram quais seriam as consequências cotidianas daquele tipo de mudança, tanto para os usuários quanto para os editores.
Então, antes de mais nada, o meu trabalho seria ajudá-los a pensar mais claramente sobre seus objetivos. Ainda que, pessoalmente, eu fosse totalmente favorável ao redesign. Mas não se tratava de um projeto pessoal. Não adianta tentar manipular clientes. Você acaba acorrentado a eles.
Assim, parti para duas estratégias. Fiz um layout bem de acordo com as referências recebidas. Mas não gastei tempo demais nele. Em paralelo, criei outra sugestão, que comportava praticamente todos os hábitos do site antigo. Obviamente, escolheram o segundo. Aproveitei e sugeri outras coisas (mais na área de estratégia de conteúdo). Adoraram as ideias. Todos satisfeitos, implementamos o design. Fui pago.
Final feliz? Claro que não.
Uma semana de uso diário do site e os coordenadores começaram a me enviar e-mails. “Então, vamos colocar de novo aqueles botões sociais? Que tal uma nova coluna de tags na barra lateral?” E assim por diante.
No começo, queriam um visual limpo, mais minimalista. Pretendiam melhorar a performance do site, deixá-lo mais amigável ao ambiente mobile etc. Agora, voltaram a pensar no dia-a-dia dos editores, no jeito como eles usam o site. Aos poucos, esqueceram-se das ideias que tinham aprovado (ou talvez não entendido) anteriormente. Também adiaram os planos “para o futuro”. Basicamente, tentaram voltar ao site anterior.
No começo da minha carreira, eu ficaria depressivo. Acharia que não fiz um bom trabalho. Ou que falhei na tarefa de entender a cabeça dos coordenadores e/ou as necessidades dos usuários do site. Talvez eu ficasse decepcionado porque teria que assinar um projeto abaixo dos “meus padrões de qualidade”.
Hoje em dia, nem esquento. Apenas reconheço o poder do hábito: queremos mudar superficialmente para renovar o entusiasmo. Mas preferimos muito mais o conforto dos velhos costumes. Ainda assim, considero que eu poderia ter sido mais claro na minha comunicação inicial. Poderia ter feito mais reuniões pessoalmente. Teria poupado algum dinheiro para a empresa.
De qualquer forma, essa era uma nova oportunidade de negócios. Afinal, é natural que façamos revisões em projetos — é para isso que existe a fase de testes. Mas cada um gasta seu dinheiro como quer. Se você quer mudar o site após a implementação, sem problemas, o preço é X e Y. C’mon, baby, I gotsta get paid.
Essa talvez seja a vantagem do envelhecimento: você não leva mais tanto as coisas para o lado pessoal. Quer dizer, não encara cada projeto como se fosse uma declaração a respeito da sua viabilidade como ser humano. Não precisa mais tanto de um portfólio, e sim de uma vida saudável.
Isso é um alívio incrível. Porque, de modo geral, o trabalho não é crítica e nem elogio à sua personalidade. É um conjunto muito, mas muito mais complexo de fatores interdependentes. Você é apenas um deles.
Sei que isso parece absolutamente óbvio. Mas leva algum tempo para realmente assimilarmos essa ideia. É que, quando estamos focados demais na carreira, é difícil ter distanciamento para pensar nessas coisas.
Mas a vida está aí, como sempre. Se você correr demais, ela vai segurá-lo(a). Se você for muito lento(a), vai empurrá-lo(a). Podemos confiar na aspereza da compaixão do envelhecimento. É provável que esse processo lhe traga filhos, relacionamentos amorosos, prazeres e frustrações. Você estará tão ocupado(a) que, quando se der conta, talvez esteja trabalhando melhor.