Nesse artigo vamos abordar um pouco os pontos críticos do Scrum, a intenção aqui não é explicar o framework (o Scrum é considerado um framework para gestão de projetos) em si, mas dar um panorama dos casos mais comuns de falhas críticas ao se tentar adotar o Scrum ou modificá-lo. Caso esteja procurando um artigo para entender melhor o que é o Scrum, recomendo esse aqui, escrito pela Dani authors: Dani Guerrato
paid: true. Ou ainda, caso queira mergulhar de cabeça recomendo a leitura do Scrum Guide (em português).
Introdução feita, vamos ao que realmente interessa aqui: O Scrum não é uma bala de prata (a essa altura você já deve saber que nenhuma metodologia ágil é). Se você, assim como eu, já foi (ou é) responsável por trazê-lo para sua empresa, esteja atento ao seu ambiente e aprenda com a implementação do Scrum. Citarei aqui e explicarei sobre cada um dos pontos críticos do Scrum:
Quando a comunicação não é suficiente
Esse talvez seja o mais óbvio ponto crítico do Scrum. Em qualquer projeto, a comunicação se faz necessária, mas diferente de outras metodologias de gerenciamento de projeto, o Scrum delega a responsabilidade do gerenciamento à própria equipe de desenvolvimento e daí a comunicação se torna ainda mais crítica. Como uma equipe pode chegar a um consenso e se autogerenciar se não há uma boa (ou nenhuma) comunicação? Sem comunicação, não há gerenciamento.
Portanto Scrum Master (ou não), fique atento a esse ponto, ao perceber pequenos atritos não resolvidos, desgaste ou qualquer sinal de que a comunicação do time de desenvolvimento, Product Owner ou até mesmo a sua, não esta indo bem. Trabalhe em cima disso.
Existe um artefato que tem como objetivo garantir uma comunicação mais fluída e um gerenciamento mais democrático e dinâmico: Planning Poker. Nele todos os membros da equipe de desenvolvimento jogam cartas para determinar o peso de cada estória de usuário. Ao jogarem cartas distintas para uma mesma User Story, é discutido (geralmente entre os jogadores que colocaram os dois pontos mais distantes) o motivo deles avaliarem aquela estória daquela forma; e Mike Cohn defende que você considere uma estória como avaliada somente quando todos do time chegarem a um consenso quanto ao peso daquela estória. Isso garante o diálogo, além de melhorar o comprometimento e a motivação.
Quando a motivação acaba
Como garantir algo tão subjetivo durante todo o projeto? Esse é um problema grave não só no Scrum, mas em qualquer outra metodologia ágil. E a resposta é como esperado: você não garante!
Então nada pode ser feito para que sua equipe se motive? Não, o fato de que motivação é algo subjetivo, não quer dizer que você não possa prover as ferramentas ou o ambiente necessário para sua equipe continuar seguindo motivada.
Vou considerar aqui que os colaboradores com quem você convive já são pessoas motivadas por natureza, que é o que se espera num ambiente ágil, e que é necessário apenas manter a motivação. Então vou citar aqui os principais motivos que levam um colaborador a se desmotivar durante o projeto:
Quando os pontos negativos individuais interferem no trabalho em equipe
Como saber se sua equipe trabalha bem em time? Em alguns casos temos uma equipe madura o suficiente para termos um trabalho em equipe direto e enxuto. Mas quando isso não acontece? Quando um membro do time insiste em ser prolixo nas reuniões? Ou quando questões pequenas consomem mais tempo de discussão do que realmente importa? Quem é o responsável por fazer essas coisas funcionarem?
Bem, considerando que temos um líder-servo como papel do Scrum (Scrum Master), cai sobre ele a responsabilidade com toda sua habilidade para servir e liderar ao mesmo tempo lidar com essa situação.
Uma boa abordagem é fazer mentorias (aconselhamentos ou tutorias) individuais em pequenas reuniões (bate-papos). Faça com que todo o processo seja o menos assustador possível para aquele que deve ter pontos negativos trabalhados, lembre-se que motivação é uma das chaves do desenvolvimento ágil e você não quer perder um membro motivado em pleno desenvolvimento do projeto, certo? Portanto, o recomendável é fazer da forma mais sutil possível: entenda os motivos que levam o membro a agir daquela forma e através de sugestões e conselhos mostre como ele pode ser mais produtivo para o time como um todo. Lembre-se, o Scrum Master deve ter um excelente conhecimento de sua equipe, logo, essas pequenas mentorias e bate-papos devem ser feitos constantemente.
Quando o PO não encontra o cliente
Essa é a maior falha em todo projeto, seja em uma metodologia ágil ou clássica.
Nesse cenário seu time entrega o que promete com excelência, as cerimonias são cumpridas com precisão, o seu burndown encontra-se impecável.
Mas nada do que é entregue é realmente um agregador de valor ao cliente final e provavelmente isso se dará quando o seu Product Owner estiver falando com o Stakeholder errado!
Pegando um exemplo simples e claro: Imagine que sua empresa está desenvolvendo um sistema de ponto para uma fábrica, o dono da empresa é seu principal Stakeholder e o Product Owner mantém constante contato com ele. Porém a cada finalização de Sprint você nota que muito trabalho teve que voltar ao backlog ou teve que ser reescrito em outras estórias de usuário. O exemplo ilustra um sinal claro, que um PO atento logo se alarmara, de que é hora de trazer um novo Stakeholder à frente do projeto e ouvi-lo falar sobre qual será o produto ideal para ele.
É muito comum, porém, que nem sempre o seu cliente final seja alguém próximo. Ou até mesmo que seu Stakeholder nem sequer o conheça! Aqui entram algumas técnicas do desenvolvimento Lean que eu acho bastante interessantes e que pode ser muito útil para sua empresa e seu trabalho receberem recomendações futuras por salvar a vida de um Stakeholder perdido.
Se você já vem trabalhando com Scrum, para entender o Lean é apenas mais alguns passos adiante, por tanto irei abordar aqui rapidamente, mas caso tenha interesse deixarei esse link para maior aprofundamento. O Lean basicamente propõe que você desenvolva um MVP (Minimo Produto Viável, em português), para entrar num ciclo de Construir, Medir e Aprender. Isso tudo feito em pequenas iterações onde cada ciclo completo você tem uma nova iteração 100% funcional (até agora bem familiar, correto?).
O ponto principal para você que acabou tendo que conhecer o cliente final do seu cliente, sem mesmo que ele o conheça, é que a cada etapa de Medir e Aprender você deve focar em conhecer mais sobre o usuário final: Teste A/B, Personas, teste presenciais de um possível usuário final, heatmap e muitas outras são técnicas e ferramentas válidas para esse momento. Se você não conhece nenhum dos nomes citados anteriormente, convido-o para que faça uma pausa e dê uma lida, ou ao menos separe alguns materiais para uma lida no futuro.
Quando o time não é seu próprio gerente
E quando o projeto inteiro é negociado sem conhecimento algum do time de desenvolvimento? E ao avaliar as estórias de usuários se dão conta de que o projeto iria demorar cerca de 6 meses, mas que a negociação e o contrato foram fechados para um prazo de 2 meses? Aqui está claro o problema: o time de desenvolvimento não é seu próprio gerente, suas cerimônias e artefatos estão perdidos! (Meio dramático, eu sei)
Mas isso serve para reforçar que esse é um dos momentos mais frustrantes para a equipe de desenvolvimento, pois não será refeita a negociação e sim serão apertados os prazos e as estimativas serão direcionadas por fatores externos.
Se você está percebendo um grande problema aqui, você provavelmente já pegou bem a ideia do Scrum… O time de desenvolvimento não mais se encontra blindado e será constantemente influenciado por fatores externos, tais como: cliente, diretores, gerentes ou qualquer nível hierárquico que sua empresa possa possuir. Isso é grave… Isso é muito grave!
Se você pode evitar essa situação faça!
Caso contrário futuramente será totalmente irremediável durante a execução do projeto e provavelmente fará com que seu time constantemente acabe passando algumas etapas da iteração por cima de outras, levando à um projeto concluído com baixa qualidade e que possivelmente gerará dores de cabeça para seu cliente e por consequência para você em um futuro muito próximo.
Obrigado por ler até aqui, espero ter apresentado pontos a serem analisados por você e evitados! Caso tenha mais algum ponto crítico que acha interessante que seja adicionado a esse artigo, elogio ou crítica deixe um comentário 😀