Quando escrevi sobre eu não gostar do nome Startup, dei motivos bem pessoais e talvez apenas baseadas em experiências que tive ao abrir minha própria empresa. A ideia de abrir uma startup é bem tentadora, principalmente quando há a possibilidade de compra e isso acaba deturpando um pouco a visão do empreendedor. Startup é uma fase da empresa. É a fase onde você precisa aprender e absorver o quanto puder e não ficar vislumbrado com uma grana que pode ser que nunca venha.
Estava relendo uma parte do livro Rework, escrito pelo pessoal da 37Signals, que fala exatamente sobre o ambiente sedutor que é uma startup. É interessante que o cenário que o livro conta é um pouco diferente do cenário brasileiro. Receber grandes investimentos enquanto sua empresa ainda é uma Startup é relativamente nova aqui no Brasil. Lá fora as startups são lugares onde as despesas e assuntos financeiros não são seu problema e é um lugar onde você gasta o dinheiro de outra pessoa como se fosse o seu. Aqui realidades de investimentos milionários ainda são bem raras.
Ter uma startup no Brasil não é (ainda) como lá fora. Você precisa penar um pouco. Não por que não existem investimentos, por que eles existem e embora raros ainda, estão crescendo bastante nos últimos tempos e isso tem feito alguns empreendedores criarem um cenário mágico sobre ter uma startup. Dinheiro fácil… só que não.
A verdade é que Startups são empresas que ainda não geram dinheiro em caixa, não dão lucro, não se pagam. Você sabe disso quando se aventura em abrir uma empresa, sem investimentos de terceiros, você conta apenas com o seu próprio capital e aí chega o final do primeiro, do segundo, do terceiro mês…
Você não abre uma startup, você abre uma empresa.
Alguns empreendedores que acabam de abrir uma empresa ignoram essa realidade. Geralmente existe aquela despreocupação geral de que startups não se machucam. Que são imunes às leis econômicas que as empresas “normais” se submetem. É difícil de entender que transformar uma startup em uma empresa realmente sustentável e rentável não é algo trivial, pelo contrário, é algo muito, muito difícil de se fazer. Você precisa trabalhar demais. Precisa ter um propósito. Precisa “ser sangue nos zóio, mano”. Convencer o investidor pode ser difícil, mas muito mais difícil que isso é convencer o usuário de que seu produto/serviço é o que ele estava procurando.
A business without a path to profit isn’t a business, it’s a hobby.
Empresas de verdade pensam no retorno financeiro desde o primeiro dia e isso precisa ser uma preocupação diária. Pensar como uma empresa e não como uma “startup” é aumentar suas chances de acertar. Não estou dizendo que é o principal motivo de se abrir uma empresa. Mas obviamente você precisa manter a empresa viva e saudável.
Quando seu ponto focal é ser comprado ou ganhar investimentos de outras empresas, você enfatiza coisas erradas. Você se esforça para agradar o seu possível comprador e não o seu usuário. Isso é obviamente um tiro no pé, por que ninguém vai querer uma empresa com usuários insatisfeitos.
O pessoal da 37Signals fala bem sobre isso. Olha só uma tradução livre:
Vamos dizer que você ignore esse conselho e venda sua empresa e ganhe um belo valor. Então o que? Você se muda pra uma ilha e fica tomando piña colada o dia intero? Isso vai te satisfazer? Você tem certeza de que isso vai ser melhor do que dirigir um negócio que você realmente acredita.
Não é só a sua vida financeira que importa. É por isso que um monte de donos de empresas não param de trabalhar depois do primeiro milhão, bilhão e etc… É muito mais que isso. Depois que o dinheiro pinga no bolso o que sobra é apenas propósito. É por isso que empresários e empreendedores, mesmo falindo uma, duas, três vezes, continuam abrindo empresas… mesmo que fechem novamente mais pra frente.
Existem várias maneiras de ganhar dinheiro, mas não existem muitas maneiras de mudar as coisas ao seu redor de forma que essa mudança realmente faça a diferença na vida das pessoas.
É, eu sei… isso é muito dramático e romântico. Muito Brothers and Sisters… Mas é a real.