Maio foi um mês intenso para o New York Times. Além de cortes importantes no staff, “vazou” na web um interessante documento da equipe de inovação do jornal. Por meio dele, ficamos sabendo que a audiência da home do site está em decadência. Apenas um terço dos visitantes chega ao NYT por ali. O resto vem de redes sociais e de busca orgânica.
Faz sentido. Quantos artigos você leu recentemente a partir de algum tipo de home? Mesmo considerando as páginas iniciais de blogs. Eu, por exemplo, consumo quase toda minha informação a partir de feeds (RSS), Twitter e newsletters. Tudo vem filtrado, destilado, legítimo escocês. Aliás, isso também vale pras nossas vidas off-line. Há quanto tempo você não se perde num sebo? Ou vai a uma loja de discos?
As landing pages são um símbolo da nossa época. Adoramos falar sobre inovação. Mas, no fundo, procuramos e usamos conteúdo otimizado, com keywords previamente pesquisadas e testadas. Inovação sem muito risco. Ou melhor: inovação pra evitar o risco. E tentar livrar a vida de qualquer sombra de inconveniência. Mesmo que seja minúscula.
Há alguns anos, ter uma TV em casa e se levantar pra mudar o canal era um luxo. Depois, virou irritação, a ponto de criarmos o controle remoto. Agora, deixamos os scripts gerenciarem a programação e ficamos putos com a lentidão da internet ou com a falta de precisão dos resultados. Ontem, era inconcebível ter WIFI. Hoje é um saco — precisamos de algo mais rápido, mais estável.
Esse é um velho costume do homo sapiens-demens: inventar ferramentas pra tentar controlar a vida cada vez mais minuciosamente. Acreditar cegamente nesse conceito de controle. Em causas e efeitos lineares. Porém, ao longo da história, já ficou suficientemente comprovado que todo sistema de controle traz, em si, um novo mecanismo de caos.
Isto é: a própria busca da conveniência cria novos padrões de irritação. E, em especial, pode aumentar a nossa inflexibilidade mental. O que transforma tudo em aborrecimento. É como se tentássemos cobrir o mundo de couro, em vez de usar sapatos.
É por isso que os sistemas de busca, explícitos ou implícitos estão aparecendo em todos os lugares. Até mesmo por trás de aplicativos como o Tinder. Tentar filtrar a informação. E a seguir filtrar os filtros. E depois os filtros dos filtros dos filtros. É um processo que nunca termina. Porque o caos é o subproduto do controle. Eles são inseparáveis. E apenas podem produzir momentos temporários de equilíbrio aparente.
As home pages foram um desses pontos de equilíbrio temporário. E estão longe do óbito. Pode cancelar o padre, porque elas se multiplicam cada vez mais. Só que numa outra forma, mais parecida com o que conhecemos como landing pages — que são uma espécie mais específica, mais temática, de curadoria de conteúdo. Você cai numa página e vê áreas de conteúdo relacionado. Links, links, links. Até mesmo um tweet hoje se parece um pouco com uma landing page: fotos e links pra marcas etc.
Então você otimiza sua landing page o máximo possível. E o Google muda as regras, como fez com o MetaFilter. Afinal, a empresa tenta ser a home page de toda a informação do planeta. Assim como o Facebook. E a Apple, entre outros. Variam os métodos e o alcance. Essa não é uma questão meramente tecnológica, ou de estratégia de conteúdo. A home page do NYT está inserida numa disputa maior de poderes econômicos / cognitivos / sociais.
E sabe qual é o nome disso? POLÍTICA. Essas são as novas instituições de poder. Mark Zuckerberg, Larry Page etc. são figuras políticas. Seus funcionários criam leis, sistemas de controle de ação e interação humanos, que chamamos de UI e SEO. E, obviamente, esses scripts também influenciam a economia.
Quando não há home page, tudo vira home page. Ou melhor: sistema de busca. Google. Por isso, código não é (só) poesia. É política.