Cobertura Campus Party Brasil 2014 – Parte 1

Para quem não conhece a Campus Party, este é um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, ocorrendo em diversos países anualmente. No Brasil, já está em sua sétima edição e somos os únicos a terem duas edições anuais da CPBr (sigla oficial do evento): uma em São Paulo, no início do ano e outra

Para quem não conhece a Campus Party, este é um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, ocorrendo em diversos países anualmente. No Brasil, já está em sua sétima edição e somos os únicos a terem duas edições anuais da CPBr (sigla oficial do evento): uma em São Paulo, no início do ano e outra em Recife – PE, no meio do ano, denominada CPRecife.

Este ano, estou cobrindo a Campus Party Brasil pelo Tableless e trago um resumo das palestras que assisti. O evento tem uma infinidade de palestras e workshops (são mais de 500 horas de atividades) acontecendo simultaneamente, então é difícil acompanhar tudo o que desejamos assistir.

Compartilho, a seguir, os destaques dentre as palestras que assisti no primeiro dia (28/01).

Não, a web não morreu

Na palestra “The Web is dead. Long live the Web”, Carlos Domingo, da Telefônica espanhola, começou exibindo a capa da Wired que anunciava que a Web estava morta, mostrando que o uso da Web estava caindo vertiginosamente e que o uso da internet estava aumentando de outras formas (acesso a e-mails e aplicativos conectados). Lembrando que Web é diferente de Internet. Antes de contrariar esse argumento, Carlos demonstrou que o uso crescente dos smartphones traz um novo ecossistema de uso  da internet controlando hardware, SO e browser, reinventando o uso da web no contexto de mobile.

Com isso, ele mostrou também como este crescimento dos smartphones trouxe uma guerra das plataformas: sistemas fechados, prevenidos contra competidores (“você não pode usar outro browser que não seja o meu”, “você não pode usar um X recurso de outro fabricante, apenas o meu”). Já tínhamos esta guerra de plataformas antes com os computadores pessoais e isso voltou com os dispositivos móveis.

E como a Web se encaixa em tudo isso? Carlos mostrou todo o histórico da Web, de Tim Berners-Lee até o surgimento da Mozilla Foundation e, anos mais tarde, do Google Chrome, quando tivemos grandes viradas na hegemonia de determinados navegadores e, até mesmo, no desenvolvimento web. A Mozilla trouxe uma comunidade de pessoas mais ativas a mover a web para frente. E o ponto chave é que, ao desenvolver algo para a web, você não tem que pedir permissão para ninguém para desenvolver algo, como acontece com os aplicativos nativos. E o HTML5 (e suas tecnologias adjacentes) está movendo a web também para outro patamar. Temos ajustes a fazer, mas a web tem vida longa e tem se reinventado.

“Web developers são a maior comunidade de desenvolvedores do mundo.”

Tudo isso foi para chegar na grande vedete da palestra: o Firefox OS, no qual a Telefônica participa do desenvolvimento junto com a Mozilla. A possibilidade de ter um SO totalmente baseado em tecnologia web, assim como seus aplicativos, faz parte do conceito de “Open Web Device”. Carlos apresentou o sucesso do FFOS na América Latina. E este sucesso tende a aumentar, não apenas entre a comunidade de desenvolvedores.

Por fim, ele fechou a palestra dele com os seguintes pensamentos:

  • A competição é o que fará o mercado evoluir;
  • Tecnologias abertas para trazer uma Web Aberta (a Open Web) para todos;
  • Você tem a opção: seu aplicativo pode ser open-source ou não, mas você tem possibilidades.

E vida longa à web!

Todo mundo, ou quase todo mundo, conhece Bruce Dickinson como o vocalista do Iron Maiden, mas não são todos que conhecem o lado multifacetado dele como empresário. Dono de uma escola de formação de pilotos, investidor-anjo, dentre outras ocupações, Bruce veio à CPBr como um dos magistrais para falar única e exclusivamente sobre empreendedorismo e a palestra dele não deixou a desejar.

Bruce começou com uma linha bem interessante: os clientes têm sempre escolha e por isso ele “odeia” os clientes, pois eles podem escolher facilmente um de seus competidores. Jakob Nielsen já falava isso nos anos 1990 a respeito da usabilidade (“os seus competidores estão a um clique de distância”). Prosseguindo, ele falou que a chave é transformar seus clientes em fãs. Sim, fãs de seus produtos, pois o engajamento é muito maior. Além disso, não basta você ter algo diferente ou um supernegócio, o seu produto/serviço tem que agregar valor ao camarote cliente.

E o que você faz de diferente? Você não apenas ofertando um mero produto/serviço, você está ofertando um relacionamento com seus clientes.

“It’s about relationship, it’s about trust (é sobre relacionamento e confiança)” – Bruce Dickinson

Ele menciona os casos notáveis da Apple que, de fato, possui verdadeiros fãs, não apenas consumidores e o famoso Nokia “indestrutível” que ainda tem um público cativo (inclusive ele) por ser fácil de usar e ter bateria de longa duração (“A bateria do seu smartphone vai acabar daqui a pouco. O meu eu só vou recarregar daqui a cinco dias”).

Bruce também falou como tudo se reinventa na indústria, bastando ter criatividade, pois impérios vêm e vão, mesmo pensando que são indestrutíveis, como no caso da música. Hoje em dia não se vende mais música como antigamente por conta dos downloads e torrents da vida. Isso é um problema? Eles (o Iron Maiden) devem então deixar de fazer música? Não! Pois eles continuam a aumentar o número de fãs e  lotando estádios para shows. É uma questão de encontrar oportunidades.

Confira outras citações de Bruce Dickinson (fonte: twitter oficial da CPBr):

  • “A natureza já nos deu tudo para criarmos coisas brilhantes, esta tudo aí, basta observar.”;
  • “A observação é chave para a criatividade, precisamos usar a imaginação para criar.”;
  • “Imaginação e paixão são tudo, não basta só ter conhecimento.”;
  • “Quando nos unimos, quando trabalhamos juntos como equipe é aí que começamos a fazer as coisas a funcionar”.

Assista na íntegra a palestra de Bruce Dickinson (thx Loiane Groner).

Gameficação: tornando o chato mais agradável e divertido

Na palestra sobre Gameficação de Processos, Guilherme Camargo explorou como trazer a experiência do usuário com games para outras áreas, principalmente negócios.

Explicando inicialmente sobre os conceitos de games, Guilherme esclareceu que brincar é diferente de jogar: jogos envolvem sempre alguma forma de competição e conquistas, que podem levar a melhorar habilidades também.

Há diferentes formas de aplicar a gameficação (ou ludificação, forma aportuguesada mais adequada) em negócios: lançar desafios para alcançar metas de vendas; oferecer levels/estágios para o seu cliente em um programa de fidelidade; fornecer recompensas em um programa do tipo “vigilantes do peso” a cada conquista; ou então fornecer badges para usuários de um serviço especial do banco a qual ele tem conta.

Em suma, envolve utilizar estratégias comuns de jogos em coisas totalmente não relativas a jogos para tornar uma experiência ou uma atividade mais agradável às pessoas. A gameficação de processos auxilia no engajamento de pessoas e também pode auxiliar a resolver problemas de produtividade, uma vez que você torna o monótono mais “divertido”. Guilherme apontou como sendo uma tendência significativa nos próximos cinco anos.

Com isso, temos os três pilares na qual a gameficação é edificada: as conquistas, a competição e, claro, a diversão. É possível aplicar isto até em processos físicos com o uso da tecnologia. Guilherme citou o uso do aplicativo Nike+, que usa a gameficação para engajar mais pessoas a correr ou praticar exercícios.

O crescimento das mulheres na tecnologia

A última palestra que eu assisti no dia foi a mesa redonda sobre Cultura Digital e Carreira promovida pelas GarotasCPBr, grupo do qual faço parte e que reúne mulheres que trabalham, estudam ou são entusiastas de tecnologia. A mesa era composta por: Elaine “Cissa” Gatto, fundadora do grupo e professora mestre; Salete Farias, profissional, professora mestre e curadora do palco de Software Livre da CPBr; Patricia Carbri, jornalista; e Ana Paula Malvina, estudante de Antropologia e entusiasta de astronomia e meteorologia. Com essa formação bem diversificada, o debate foi muito rico e cada uma apresentou como a comunidade GarotasCPBr auxiliou a ganhar visibilidade em suas respectivas áreas de atuação ao escrever para o blog do grupo e participar de outros eventos como o FISL (Feira Internacional de Software Livre, que ocorre todo ano em Porto Alegre – RS). Particularmente falando, a comunidade também me auxiliou a ter mais visibilidade profissional, inclusive como palestrante.

Mesmo não estando no palco, contribui com algumas discussões e perguntei a elas se outras garotas se sentem inspiradas por elas a seguir ou se destacar mais na carreira de tecnologia de um modo geral e as respostas foram bem positivas. Como professoras, Salete e Cissa relataram que as alunas buscam inspiração nelas, pelo fato de ainda terem poucas mulheres nos cursos de tecnologia.

Um dos pontos mais interessantes é que todas relataram nunca ter passado por experiências de preconceito no início da carreira ou mesmo no momento atual. Respondendo a uma participante que perguntou sobre isso, citando o caso da região onde ela mora, elas fizeram uma consideração pertinente: existem casos que são localizados, regionais, não há um cenário uniforme em todo o Brasil sobre a questão do preconceito e do tratamento de mulheres em TI no trabalho. Em Bauru, por exemplo, há muitas mulheres inseridas em TI em diversos cargos, inclusive de liderança, portanto, é algo bem comum ter mulheres na área de TI atuando na cidade.

Um participante também questionou sobre iniciativas para incentivar durante o ensino médio as mulheres a se interessarem por cursos de exatas e Salete comentou sobre iniciativas na universidade em que ela atua para promover feiras e visitas que apresentam o curso a estudantes do fim do ensino fundamental e do ensino médio.

Cissa também pontuou que a comunidade, que surgiu na CPBr de 2011, tem como principal objetivo orientar outras garotas na área de TI em diversos aspectos: troca de conhecimento técnico, orientação sobre a própria Campus Party, participação em eventos, etc. Cissa e Salete também explanaram que a comunidade, apesar de ser aberta apenas às mulheres, não tem qualquer apelo sexista e que elas pretendem fazer um levantamento sobre as participantes da comunidade sobre formação, dados demográficos e outras informações, para divulgação em eventos específicos e também de forma aberta a todos. A troca de informações na mesa foi muito interessante e acabamos até passando do tempo.

Para quem não foi à CPBr

Você pode acompanhar várias palestras, inclusive com os keynotes e magistrais, através do site campuse.ro, que disponibiliza o live streaming das palestras.

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