O grande desencontro do HTTP com o HTML

O texto irá contar a evolução e desencontro de duas tecnologias. O importante aqui é apresentar a você uma série de conceitos e raciocínios ligados à linguagem de marcação e ao protocolo de marcação mais famosos dos nossos tempos. Vê se não banca o curioso, nada de descer até o fim do texto para conhecer

O texto irá contar a evolução e desencontro de duas tecnologias. O importante aqui é apresentar a você uma série de conceitos e raciocínios ligados à linguagem de marcação e ao protocolo de marcação mais famosos dos nossos tempos. Vê se não banca o curioso, nada de descer até o fim do texto para conhecer o desfecho desta trama.

Hypertext Transfer Protocol (HTTP)

O HTTP é um protocolo de comunicação para distribuição de objetos de hipermídia referenciados por uma URL. Este é o principal dos protocolos da Internet e com certeza, como desenvolvedores, é o que devemos melhor conhecer. A função do protocolo é bastante simples: realizar requisições e receber respostas entre um cliente e servidor.

A transmissão de informações entre um emissor e um receptor caracteriza uma comunicação. E da mesma forma que uma comunicação interpessoal, a cordialidade é essencial. O protocolo HTTP estabelece um cabeçalho para suas requisições e respostas. O cabeçalho de uma mensagem são informações complementares que são de uso do cliente e servidor. Através das informações passadas pelo cabeçalho, que são de uso exclusivo do servidor e navegador, é possível informar em uma requisição a preferência de idiomas, as codificações e os formatos de conteúdo para uma resposta. O cabeçalho da resposta, por sua vez, contém o código de status, codificação, formato do conteúdo e tempo de expiração da página.

Métodos de requisição

O protocolo HTTP foi criado no projeto World Wide Web e designado para operar essencialmente com documentos de hipertexto. Nesta época, havia somente o método GET para requisitar as páginas, mas isto foi antes de qualquer especificação do protocolo.

O HTTP 1.1, que constitui a especificação consolidada mais recente, possui alguns outros métodos que são informados no cabeçalho da requisição. Os principais métodos que você deve conhecer são:

  • GET: desde sempre, solicita um objeto para o servidor. Em tempo, objetos são qualquer entidade que o servidor conheça e que o cliente esteja interessando em manipular.
  • PUT: escreve um objeto no servidor de maneira a respeitar a propriedade da idempotência. Em linhas gerais, este tipo de requisição pode ser chamada mais de uma vez e o resultado no servidor será o mesmo. Geralmente estas requisições carregam consigo um identificador único para o objeto e portanto são mais usadas para alterá-lo.
  • POST: escreve um objeto no servidor sem respeitar a propriedade da idempotência. Requisições deste tipo, quando repetidas, podem gerar resultados diferentes no servidor. O uso comum é para a criação de objetos no servidor.
  • DELETE: remove um objeto no servidor.

Representational State Transfer (REST)

Graças a ubiquidade alcançada pelos navegadores, aplicações apoiadas na internet são cada vez mais comuns. REST é um estilo de arquitetura que define como aplicações devem utilizar o protocolo HTTP e URLs para representar recursos.

O estilo estabelece que o conceito de recurso é tudo aquilo no servidor que pode ser nomeado, tal como documentos ou imagens. Cada recurso deve possuir um identificador único, ou seja, uma URL. Por exemplo, uma aplicação para gerenciar produtos pode identificar um recurso de produto através da URL products/59.

O cliente, através dos métodos de requisição do HTTP, efetua ações em um recurso. Considerando a mesma aplicação, requisições com método GET, PUT e DELETE para a URL products/59 irão mostrar, alterar e excluir o produto, respectivamente. Note, uma única URL para três diferentes ações.

O último conceito relacionado a REST é o de representação. O cliente sempre irá transferir uma representação de um recurso. Informações passadas pelo cabeçalho da requisição ou acrescentadas ao fim da URL podem informar qual o formato da representação que se espera de um recurso. Desta forma, o mesmo recurso pode ser transferido na forma de HTML, JSON e até mesmo XML.

O Ruby on Rails, framework bastante usado para desenvolver aplicações web, prove uma série de funcionalidades para auxiliar o uso de REST. Para compreender melhor o assunto, basta conferir o guia de rotas do Ruby on Rails, que documenta como definir URLs e ações de controller com base em recursos.

A bibliografia a respeito de REST é vasta. A última dica sobre o assunto é conferir a tradução de um texto que é muito bom e engraçado: Como eu expliquei REST para a minha esposa.

Hypertext Markup Language (HTML)

O desenvolvimento do HTML foi concomitante ao do HTTP, sua função é marcar os documentos do projeto World Wide Web. Você já está careca de saber que o HTML é um conjunto de tags que estruturam e garantem semântica ao documento.

Capítulo 1: A evolução das especificações

No início, o navegador tinha como função ser a interface para uma grande biblioteca distribuída. O protocolo HTTP, antes mesmo da sua especificação, tinha apenas um método GET. Não havia a intenção de se alterar as informações armazenadas em um servidor. A primeira especificação do HTTP já era mais ambiciosa e definia uma série de métodos de requisições. Com estes métodos, já era possível deixar explícito que uma alteração seria realizada no servidor.

Criada logo após a especificação do HTTP, a primeira especificação do HTML era um pouco menos ambiciosa. Tente imaginar, a especificação não continha formulários. Mesmo assim, os métodos de requisição do HTTP não foram deixados de fora. As âncoras aceitavam um atributo methods para indicar quais métodos poderiam ser usados ao requisitar determinado objeto. Poucos navegadores deram suporte ao atributo, o qual nunca chamou muita a atenção e na especificação atual já está obsoleto.

Manter o HTML com o único propósito de marcar conteúdo já não era a estratégia quando definida a segunda especificação da linguagem. A especificação eleva o HTML 2.0 a um Internet Media Type. Isto significa que os usuários podem não apenas navegar e interagir com documentos, mas também preencher e submeter formulários.

Além de um atributo action com a URL de destino, os formulários aceitam um atributo method que suporta os valores GET ou POST como método da requisição de envio. O uso de POST, segundo a especificação, é restrito a operações que modifiquem a base de dados ou assinem algum serviço.

Capítulo 2: O desencontro

No estado atual da especificação, o HTML suporta âncoras que realizam requisições com o método GET e formulários que são enviados com método GET ou POST. Qualquer outro recurso, tais como imagens, folhas de estilo e scripts, são requisitados com o método GET. O HTML não possui nenhum recurso para o uso dos métodos PUT e DELETE.

O resultado é que não existe uma maneira de utilizar uma API REST unicamente através de HTML. Em outras palavras, uma página pode apenas acessar e criar novos recursos. Não é possível excluir ou alterar recursos utilizando REST e toda a sorte dos métodos de requisição do HTTP.

As discussões a respeito desta falha de compatibilidade são antigas. Existem várias propostas de soluções. A mais notável, chamada HTML Form HTTP Extensions, acrescenta um atributo method ao formulário que aceita a maioria dos métodos do HTTP 1.1. Desta maneira, é possível disparar uma requisição com método DELETE através de um formulário. A proposta, que é um rascunho não oficial e não possui suporte em nenhum navegador, inclui também artifícios para adicionar informações ao cabeçalho da requisição.

Capítulo 3: Alternativas

Antes de falar das alternativas, é importante nos voltarmos para o JavaScript. A API XMLHttpRequest permite o uso de todos os métodos além de manipular outros dados do cabeçalho da requisição:

var request = new XMLHttpRequest();
request.open('DELETE', 'products/59');

request.setRequestHeader('X-Requested-With', 'XMLHttpRequest');
request.send();

É importante destacar que poder disparar requisições com diferentes métodos apenas através de JavaScript não é o bastante. Em especial, requisições deste tipo são assíncronas, não sendo sempre o que precisamos.

Formulários

Apesar do Ruby on Rails se tratar de um framework para desenvolver aplicações web para navegadores, o estilo REST é suportado e evangelizado em toda a documentação do framework.

Enquanto as especificações não evoluem, os formulários parecem ser a melhor alternativa para disparar diferentes métodos. O Ruby on Rails tem como dependência o Rack, que é uma interface para desenvolver aplicações em Ruby. O Rack permite que o formulário com método POST possa informar um novo método através de um campo _method. Isto não afeta diretamente o método da requisição, apenas faz com que o Ruby on Rails interprete a requisição de maneira diferente. O formulário a seguir seria atendido por uma rota de DELETE de products/59:


    
    

Caso esteja utilizando Ruby on Rails, não é recomendado possuir códigos como este nas suas views. Ao invés disto, utilize Form Helpers, os quais já se encarregam de escrever este e outros campos necessários para o correto funcionamento do framework.

Tratando-se de outras linguagens, diferentes frameworks full-stack também endereçam esta solução. O Laravel, escrito em PHP, também suporta um campo hidden de nome _method.

A flexibilidade e vantagem desta solução é poder ter as mesmas rotas e ações para manipular um recurso através de formulários HTML e requisições JavaScript. Graças ao REST, as diferentes ações podem transferir uma representação do recurso em HTML ou JSON para requisições oriundas de formulários e XMLHttpRequest, respectivamente.

Âncoras

Segunda a especificação, os links são conexões entre dois recursos. Em especial, as âncoras permitem que o usuário navegue através de um documento ou acesse outro recurso seguindo determinada URL. Os links, que incluem ,

e , sempre requisitam recursos através do método GET e portanto não devem causar efeito colateral no servidor.

Removendo registros

Em áreas administrativas, é bastante comum termos registros em tabelas com uma âncora de excluir. E está errado por vários motivos: não é por navegar para uma página que registros devem ser excluídos. Lembre-se que nos tempos em que conexão banda larga era rara, aceleradores praticavam acesso a todas as âncoras para agilizar a navegação. Assim, tudo seria excluído. O mínimo a se dizer é que cada um destes botões devem estar envoltos em um formulário POST, até mesmo se sua aplicação não respeitar REST.

Um argumento que pode surgir contra esta prática é a mudança dos elementos no HTML, por trocarmos um único por um formulário que tem um

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *